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Yara a Novata



Atenção jogadores do Rio V5 , este conto é outgame (em off, jora do jogo) e nenhuma informação aqui pode ser usada ingame ( em on , dentro do jogo).

Metagame tira XP.

Estejam avisados e boa leitura!


Alguma noite perdida na memória do ano de 2018


- Yara...


Nascimento me chamou com um tom que mostrava receio. Eu estava ao seu lado, sentada em frente a minha escrivaninha escrevendo alguns pontos do meu TCC. Ele continuou:


- Eu irei até a Elísia pedir formalmente o direito ao seu Abraço á Príncipe, pra te tornar, finalmente, uma Brujah.


- Ainda acho esse termo “Abraço” engraçado – falei ainda olhando para os papéis a minha frente – Você está receoso quanto a isso? – larguei tudo e me virei para ele.


- Não muito. Meu receio não é em relação ao pedido, até porque é uma mera formalidade, mas sim em relação a você. Não me leve a mal por favor… – seu olhar era sereno, sua postura era bastante largada no meu sofá – Quando um humano se torna um vampiro, um Cainita, um Membro... Ele passa por uma brusca transformação. Óbvio, ele morre e volta a vida, driblando todas as leis naturais mas... Diante de todo poder e capacidades que ele ganha... Muitos acham que ser uma criatura da noite é uma das coisas mais maravilhosas do mundo. Por um lado, é sim, mas também há o fardo das várias vidas ceifadas pelas nossas mãos e nossas presas. Talvez isso não importe agora, mas talvez uma hora isso se volte a pesar em sua mente, principalmente para nós, os Osêbo Brujah, já que somos tão emocionados – ele deu um sorriso. Seus caninos alongados apareciam timidamente.


- Você tem medo que eu me transforme em um monstro sanguinário ou que eu me arrependa? – O olhei agora com um misto de dúvida. Porém, me encontrava calma, pois suspeitava que uma hora ou outra voltaríamos a ter essa conversa.


- Talvez eu tenha mais receio de tomar a sua vida e sua alma por puro egoísmo, pelo simples fato de eu me afeiçoar ao seu jeito e ver um potencial para um Membro. Você me lembra muita minha outra aprendiz, Ártemis.


- Você falou sobre ela, a Mirmidã Brujah que defende os direitos de todas mulheres, sejam elas imortais e/ou humanas.


- Sim, mas o ponto que eu quero chegar, Yara…. Na verdade acho que é mais uma pergunta… Em troca da sua vida eu lhe ofereço um mundo por trás do mundo que conhece e te darei habilidades que superam as de qualquer humano normal... As que tens agora é são só 1/3 do que você realmente será capaz de fazer... Todavia, em troca da sua alma, eu lhe ofereço uma sede insaciável, morte, segredos, mentiras e traições. Pois é assim que o mundo Cainita funciona.


Ele falava tudo isso sério. Me perguntava se ele queria que eu jurasse lealdade a ele, fizesse algum voto perpétuo, mas não: “palavras podem se tornar vazias no olho da tempestade ”. Continuei em silêncio.


– Você, tendo plena noção de toda a merda que te espera? Você, minha Icamiaba, trilharia esse caminho de trevas comigo? Aguentaria o fardo do tempo e da Sede, e o mais importante, me ajudaria a guiar, proteger e, se necessário, disciplinar e punir e minhas irmãs e meus irmãos, quer dizer, nossas irmãs e nossos irmãos, se necessário?

Depois de Nascimento ter terminado de falar houve um pequeno silêncio. Ficamos nos encarando por alguns instantes. Minha mente estava completamente limpa a respeito de tudo aquilo. Ou talvez estivesse processando, não saberia dizer.


- Disciplinar, guiar e proteger companheiros de grupo não são tarefas difíceis. Isso eu já faço, mas claro, de uma maneira diferente – me levantei da cadeira e me sentei não muito distante dele no sofá – Não sei se isso é alguma proposta de casamento bizarra que vocês vampiros fazem – ele riu, uma risada espontânea e bastante audível – Mas, você me ajudou, Nascimento, você me deu força quando eu necessitei, você me salvou, me ensinou, e vê potencial para me transformar no que você é e mesmo sendo mais forte e poderoso do que eu, você ainda pede minha permissão, me tratando como numa igual – ele tenta falar, mas faço um gesto para que me esperasse eu terminar, o qual ele prontamente acata – Você se tornou uma das pessoas mais queridas da minha vida, um amigo, um professor, alguém que eu seguiria por onde for, eu aguentaria o peso da imortalidade e o fardo de sempre caçar para sobreviver. Então sim, Nascimento, eu trilharia esse caminho sombrio com você, meu Ancião.


Quando parei de falar ele ficou algum tempo me olhando, até que deu um sorriso mostrando os caninos alongados.


- Então nos uniremos em sangue, minha Icamiaba.


E abriu seu pulso com seus dentes de vampiro, para que eu bebesse seu néctar de imortalidade, uma última vez. Senti suas presas morderem a minha pele do pescoço, a última vez que ele bebeu de meu sangue e eu senti o infinito êxtase do prazer de seu Beijo, como era chamado.



Dois meses e algumas noites atrás, 29 de março de 2020.


Yara olhava pela janela do hotel do qual estava hospedada. Olhava o movimento dos carros, via o tempo passar.


- E no final eu trilharei o caminho sombrio, Nascimento, só que sem você ao meu lado como você queria.


Os pensamentos dela foram interrompidos por algumas batidas na porta. Ela permitiu a entrada.


Ártemis, sua “irmã” de Clã, agora sua Senhora, sua Domitor, como tinha falado e ouvido na reunião do Elísio da Lagoa, adentrou no quarto. Era visível o sangue em seu rosto e seu mau humor. Não era comparado a quando ela havia matado Dennis “Pé de Cabra”, seu irmão, que mesmo tendo jurado se tornar Helenista, havia fugido do Elísia na mesma noite.


- Consegui o direito Abraço, a permissão do Príncipe, diante d toda Corte e do Conselho. Agora é oficial – ela disse ao se sentar no sofá, não muito longe de Yara estava, que agora apoiava-se ao lado da janela, olhando pra Cainita.


- Sempre achei esse termo “Abraço” engraçado, mesmo o Nascimento tendo me explicado o significado várias vezes – a Carniçal disse ainda encostada ao lado da janela – Mas, ao que parece, não foi uma coisa tão simples conseguir a permissão do Príncipe.


- A permissão do Don Guido não foi algo tão difícil de se conseguir, se for reparar, mas o problema foi mais... – ela parou, olhando para a mesinha de centro a frente do sofá. Alguma coisa a havia enfurecido, era nítido. Yara ficou observando-a do mesmo lugar, em uma distância relativamente segura – ...A merda mesmo foi a porra de um recém chegado que queria me fuder. Queria fuder o meu direito de abraço, queria que eu fizesse um Favor de Sangue, de Vida, por uma merda que o desgraçado do Dennys fez. Caralho, só pau no meu cu.


- Você é a única Anciã Bru... Helenista presente agora. Querendo ou não, tudo vai ficar caótico, principalmente pelo fato que o Clã inteiro está passando por uma drástica transformação, pelo que entendi, e isso tudo vai cair em cima dos seus ombros. Se o tal do Rolf voltasse…


- Ele não vai voltar, ele foi pra algum outro canto. Filho da puta, com isso o Clã inteiro fica sobre a minha responsabilidade... Eu, agora Conselheira do Clã "Helenista"... - A mulher de cabelos rosados olhou para Yara – Tem muita merda acontecendo nessa cidade, Yara. Infelizmente estou sozinha com uma pica enorme que muitos querem botar no meu cu... – ela retirou os óculos escuros colocando mais a mostra sua cicatriz sobre o olho esquerdo, agora branco devido a lesão – Hum… Você me contou que lida com grupos que fazem protestos e manifestações, talvez você possa me ajudar com os Anarquistas, mas temo...Não! Tenho certeza que esse recém-chegado só está esperando a oportunidade de me fuder bonito.


- E pra isso ser mais fácil é só eu cometer algum deslize para ele conseguir o que quer, ele e muitos – a humana negra falou calmamente, com seriedade. Yara foi em direção ao pequeno sofá que estava à frente da Cainita, do outro lado da mesinha – Já imaginava que haveria alguns, senão todos, que iriam me subestimar e/ou esperar más ações vindas de mim, humana, recém abraçada, estando em um Clã dividido igual pedaços de pizza... – Ela para e passa a refletir sobre as coisas que estavam acontecendo.


- Exatamente. É por isso que, quando eu for te abraçar, você tem que me prometer que vai tentar ficar o mais longe de toda merda possível! Já bastava o Dennys na minha não-vida. Foi bem enfatizada a Tradição da Responsabilidade na minha cara marcada. Se fizer qualquer merda, qualquer coisinha errada, tudo vai cair sobre mim. Então…


- Acho que você tem uma impressão muito errada sobre mim, Ártemis…


- Não se trata de “impressão” e sim prevenção.


- Então lhe direi que você está colocando a carroça na frente dos bois antes mesmo da viagem começar – Yara falou com firmeza, mesmo agora temendo poder inflamar mais ainda a ira da Anciã Cainita, afinal ela ainda era apenas uma Carniçal. Ela respirou fundo e continuou – Há uns anos atrás, o Nascimento estava como você, receoso, mas o receio dele era diferente do seu. É claro, a situação em que todos nos encontrávamos era diferente, mas o que eu fiz com ele eu vou fazer com você... Eu não vou prometer, jurar, pois palavras podem se tornar vazias no olho da tempestade, mas eu te dou a certeza de que trilharei esse caminho sombrio em que nos encontramos ao seu lado, pois querendo eu ou não, já estou envolvida com esse Clã e nessa situação. Mas, se não for o suficiente, Ártemis, eu vou te ajudar a segurar este fardo que está decaindo sobre os seus ombros, eu serei sua irmã, sua filha, sua companheira, afinal, fomos educadas pelo mesmo professor e eu tenho certeza que ele iria querer que a gente se ajudasse, não por pura pressão, mas por puro companheirismo.


Ártemis ficou em silêncio por algum tempo olhando e ouvindo tudo o que a humana falava a sua frente. Quando Yara acabou ela sorriu, mostrando seus caninos alongados.


- É, posso até ouvir a voz dele nas suas palavras, puta que pariu que bizarro. Ok, vamos trilhar juntas nessa merda.



04 de Abril de 2020


Algumas noites depois,ambas estavam no apartamento de Yara, foi necessário algumas coisas pra Ártemis entrar no recinto, afinal ele estava protegido magicamente.


- Realmente nenhum Membro entraria sem você deixar. Mas, tem certeza de que quer fazer isso aqui? A Inquisição pode entrar por aquela porta, seria mais seguro se fizéssemos ou no Elísio ou em algum local mais protegido – a Anciã Cainita olhava com receio pros lados.


- Foi aqui onde tudo começou praticamente, tudo entre eu e Nascimento... E também esse é meu santuário. Não creio que a Inquisição já tenho o alcançado ainda, então não seremos importunadas hoje. Talvez, a essa hora eu já soubesse se algo estivesse errado.


- Como? Você tem câmeras aqui?


- Bom – Yara se sentou no sofá no meio da sala – Além de algumas pessoas dos meus grupos serem bastante ligadas nessas questões de caça aos nossos Membros, têm também... – ela mostrava certo receio – Digamos que eu tenho uma “peculiaridade”...


- Puta merda, você tem vozes na sua cabeça, caralho, você também é daqueles que fala com os espíritos dos mortos? – Ártemis parecia realmente intrigada, tal reação fez a negra rir.


- Calma… Bom... Antes, escute, é mais simples, digamos, eu já te disse que meu berço é parte indígena e por isso que eu tenho essa peculiaridade... Em resumo, tenho uma conexão com o Mundo Espiritual mas, ao contrário do que você supôs, eu não vejo ou falo com os mortos: Eu vejo e falo com os espíritos das florestas, os espíritos da natureza. Por isso eu ganhei o apelido de Pajé. Só alguns sabem disso, Nascimento sabia, afinal ele também bebia o meu sangue.


- Ooook, você se comunica com os espíritos da natureza – Ártemis ainda parecia não acreditar nas informações que recebeu – Nascimento quando bebeu o seu sangue também via essas coisas? – a humana confirmou com a cabeça – Puta merda… Ok! Ok! Muitos poderiam pensar que você é uma Malkaviana, no máximo uma Hecata diferenciada por isso... Tudo bem, podemos lidar com isso, eu acho, mas enfim! Onde faremos isso? Também é minha primeira vez…


- No quarto mesmo, nada mais simbólico que adormecer e ressurgir no seu leito de descanso, mas, talvez morrer em sua própria terra – a Cainita a olhou com um misto de confusão e estranhamento para a Carniçal bucólica – Deixa pra lá. Um aviso: não ligue muito para o que eles falarem! Eles costumam falar muito em enigmas e, geralmente, eles falam geralmente na língua nativa, então... Meus ancestrais costumam gostar de pregar peças de vez em quando….


Tudo estava pronto. As duas estavam de frente uma pra outra, ao pé da cama. Yara estava um pouco nervosa, não muito por morrer, mas por iniciar uma nova vida, a vida da qual ela estava sendo preparada a mais de 7 anos. Ártemis então sem pestanejar cravou as presas no pescoço da humana, o Beijo, como era chamado. Era extremamente prazeroso, indolor, suave, como um beijo de um amante, que se tornava um grande prazer e um dos maiores orgasmos. Melhor que muitos que Yara já tivera em atos sexuais. Maior e melhor. Com Nascimento era a mesma coisa, era possível sentir o sangue ser drenado. Aos poucos, enquanto delirava de prazer, as coisas começaram a ficar zonzas e embasadas, a fraqueza começou a dominar partes do seu corpo, suas extremidades começaram a ficar geladas, as pontas dos dedos, nas pernas... Quando fez um grande esforço para se manter sã e ver o que estava acontecendo, percebeu que já estava deitada na cama.


- Yara, beba – a voz de Ártemis, vinda de lábios molhados, cheios de seu sangue, parecia distante, aos ouvidos da negra de quem ela havia acabado de beber uma quantidade considerável de sangue – Beba.


Aos poucos, gotículas de sangue da própria Cainita foram caindo na boca morta de Yara. Quando ela se mostrou mais consciente, o pulso agora com um corte aberto foi aproximado á boca dela, que começou a beber o enebriante Vitae de Ártemis.


Então nos unirmos em sangue, minha Icamiaba, era quase possível ouvir a voz de Nascimento na mente de Yara quando tudo foi começando a ficar vermelho e a Fome da Besta vampírica pela primeira vez lhe tomou.

Texto original da jogadora Thereza Cristina, enxertos e revisão do Narrador Daniel Braga

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