Boaventura Pioneiro do Rio de Janeiro e Gangrel Bandeirante Independente

Dito por um Skald do Clã da Besta em um Althing, bem longe dos olhos dos outros Clãs.
Transcrito por um Anarquista Gangrel Urbano e divulgado em pequenas salas de bate-papo nos corredores hackeados da SchreckNet.
"Boaventura Pereira era um Bandeirante a serviço coroa portuguesa no século XVI. Em uma de suas Entradas se perdeu de sua companhia e foi caçado por um felino gigante que quase o matou. Sobreviveu, sendo socorrido por uma tribo nativa desconhecida que adorava um outro espírito felino da selva.
Depois de um ano de cuidados e vivendo entre os silvícolas, foi agraciado com a honra de conhecer o tal espírito, mas percebeu que, em verdade, seria sacrificado para um Autarca Amaldiçoado da Linhagem de Sangue Tlacique que dominava a região. Conseguiu se desvencilhar e usou um pouco de pólvora para feri-lo. Surpreso com essa nova "magia" e impressionado com a resiliência do humano, o vampiro decidiu tomá-lo como Carniçal.
Por mais 12 luas o Tlacique fez com que Boaventura o instruísse em tudo sobre sua cultura européia e sua tecnologia, para conhecer melhor esse novo povo de tez alva que adentrava cada vez mais em seu Domínio. Foi um trabalho árduo e feito sob muita tortura e controle constante, pois Boaventura exibiu desde o começo uma estranha tolerância aos poderes do Laço de Sangue. Boaventura seria, por fim, após essa nova passagem de tempo, sacrificado ritualisticamente pelo Tlacique. O Jaguar o submeteu a diversos tipo de torturas e dor, mas, no último minuto, o Bandeirante, que havia fingido desmaiar, conseguiu escapar de suas garras.
Boaventura tentou continuar fugindo enquanto era perseguido pelo Tlacique em forma de onça, sem nunca desistir de seu resto de vida. Ele fugiu e correu e correu por muito tempo, caçado pelo seu rival Jaguar. Enfim, foi salvo por Gondul, a Valquíria, que a muito fugira da Europa. Ela migrara para o novo mundo no começo da invasão cristã á suas terras e, dizem, teria vindo com os Vikings para a América do Sul, onde poderia entrar em torpor em paz. Acordada de seu longo sono pelo sofrimento de Boaventura e pela ressonância do ritual de sacrifício de sangue, a Gangrel expulsou o Tlacique, soltando Boaventura de suas garras da Onça Amaldiçoada. O bandeirante, mesmo completamente incapacitado, em uma última fagulha de vida e de forma quase em frenesi, o que lembrou Gondul dos berserkers, os parentes mortais dinamarqueses da Gangrel, partiu para cima do seu torturador. O Jaguar Rival começou a se transformar em névoa para fugir, mas não ante de atacar com todas suas forças Boaventura em sua forma felina. A morte era certa, mas como uma boa Valquíria diante de um guerreiro que lutou até o fim, a Gangrel acaba por Abraçar Boaventura. Depois de ensinar algumas coisas sobre os Cainitas e a cultura do Clã da Besta por algumas noites , Gondul deixou Boaventura por sua conta (ao melhor estilo do clã) pela costa carioca a sua própria sorte. Interessantemente, apesar de sua linhagem, o fato de ter sido Carniçal de um Tlacique se mostrou bastante útil e o fez até entrar e contato, ocasionalmente, com uma outra Jaguar, Irupê, que o ensinou sobre sua cultura, sobre sua linhagem de sangue dos Tlacique (dela e do seu antigo captor) e sua pajelança vampírica, o Nahuallotl. Irupê se tornou sua amante e também aprendeu sobre os modos dos colonizadores, dessa vez sobre a égide do sentimento e da troca de sangue, porém, da mesma forma, Boaventura não se tornou prisioneiro de um Laço, o que fez com que eles acabassem por se afastar, visto que a própria Tlacique havia ensinado sobre as propriedades do sangue cainita para seu amado e sabia estar sobre esse efeito. Por amar Irupê, Boaventura a deixou, para que o Laço se quebrasse.

Muitos anos se passaram e Boaventura sentiu o chamado das matas pelo poder do sangue de Ennoia e mais e mais anos e anos se passaram bastante depressa. O Gangrel se tornou um Cainita paradoxal. Mantendo suas origens europeias enquanto desenvolve sua Metamorfose, Boaventura trabalhou independentemente como mercenário e como elo entre principados e arcebispados diferentes, levando mensagens, Cainitas, rebanho e objetos para os que podiam pagar seu preço. Boaventura nunca deixou de fazer o que fosse necessário para sobreviver. Ele evitava as cidades pois sabia que elas são mais perigosas que os sertões, que os pantanais e as florestas mas, às vezes, precisava da companhia "humana" para não sucumbir totalmente ao seu lado selvagem. Com o tempo, se acostumou a tangenciar a parte urbana da cidade do Rio de Janeiro, onde acabou se tornando seu território e refúgio, local de tantas e tantas lembranças que acolheram sua luta contra o desconhecido e sua nova pós-vida e pelo imenso verde a sua volta.
Anos viraram décadas, que viraram séculos...E Boaventura cada vez mais se tornava mais bestial, cada vez mais cedia à maldição do clã, abraçando toda sua bestialidade. O Bandeirante Pioneiro viu a cidade crescer dos matos, viu vários Cainitas formarem Conselhos, Bispados, Principados, Cidade Livre e, bem recentemente, viu um novo principado com uma Ventrue que demarcou formalmente seu território, impedindo o crescimento de influências de outros clãs nesses lugares. Seu novo vizinho era um outro Gangrel bastante vinculado a Camarilla de nome Calamare, que dizia ser bem próximo de Xaviar, o Ex-Justicar antes do Clã sair da Torre…
Neste meio tempo a idade avança de Boaventura chegou a extremos e sua sede de sangue não conseguiu mais ser satisfeita apenas por mortais, o que fez com ele precisasse procurar Vitae para sobreviver. Em alguns poucos things e althings descobriu que muitos dos mais novos andavam em caminhos extremos, Cruzadas do Sabbat no Meio-Oriente ou se aproximando dos Anarquistas que só queriam ficar em paz e longe das longas e hipócritas leis da Camarilla.

Depois de tantos e tantos e tantos séculos, eis que ressurge Irupê, a Tlacique . Ela estava visivelmente desesperada e sua aparência era muito esquisita, como se a pele tivesse incandescente. Ela dizia que finalmente encontrou aquele outro vampiro pré-cabralino que fora seu Jaguar Rival. Ela alertava sobre ele e outras linhagens já existiam nessas terras. E uma espécie de conspiração no seio dos 13 Clãs na América do Sul. Quando ela terminava de falar isso, chegando no auge da incandescência, ela ainda consegue dizer uma última palavra, um termo em tupi-guarani : Kamakogari. Sua pele se desfaz em cinzas ardentes nos braços de Boaventura. O Pioneiro Gangrel percebe que ela havia sido uma espécie de amor verdadeiro e um dos poucos resquícios finais da sua humanidade. Ele cede finalmente a Besta e vai ao encalço de seu antigo captor, o Jaguar Rival.
Boaventura teria chegado ao Rio e foi recebido por um exército de criaturas das matas do rival, o que quer que agora assola as noites dos Cainitas Cariocas nos territórios do Clã da Besta. Em sua busca frenética pelo seu rival, se deparou com um Faminto jacaré gigante que passou para uma forma humanóide e iniciou uma batalha por noites a fio. A batalha foi tão épica que alguns Membros da Cidade Livre que nunca tinham entrado em territórios Gangrel se sentiram impelidos a enfrentar chuvas, lama e outros seres, e mesmo que apavorados de entrarem nas matas do Imperador da Pedra da Gávea, não conseguiram desviar a atenção. Foram para lá como urubus verem os dois em suas formas de combate se engalfinharam no topo da coroa do Imperador. Alguns dizem que a Faminta foi mais forte, outros que outros seres com sortilégios e maldições ajudaram a criatura reptiliana e ela dividiu o bandeirante em dois.
Essa história é um aviso: Boaventura era poderoso, era majestoso e já havia sobrevivido a tudo por séculos. Ele conhecia segredos do Clã, segredos de sua Senhora, segredos de sua amante e até de seu rival. Mas, era solitário. As coteries são a única saída para lidar com todas as forças que insistem em tentar nos destruir. Sozinhos, todos encontraremos a Morte-Final. Cuidado com o Jaguar Rival. Cuidado com as forças antigas das matas. Cuidado com a Conspiração Kamakogari. Eles são a nossa Gehenna. "
