Epilogo do Ato VI
Final da noite de 15 de fevereiro, minutos antes do amanhecer. O Xerife Simon, a Cortesã Conselheira Lady Isabelle, o Cappo Della Torre Don Vitto, o Magistrado Don Martino e o novo Conselheiro Regente Viktor estão do lado de fora de um prédio da UFRJ da praia vermelha. Os incríveis sentidos do Regente Viktor e de Lady Isabelle continuam a escrutinar o local, junto com as Aparições controladas por Don Martino e Simon, enquanto Don Vitto se comunica no rádio. De repente, Isabelle encontra algo no chão onde se percebe que algo pesado acabara de cair, um pequeno espelho com uma leve rachadura. Em poucos minutos, Viktor acha a pedra da Forma Verdadeira que há pouco tempo atrás era usada em um anel. Este é achado mais para frente, em direção do portão de saída lateral do campus. O Regente Viktor une os dois itens com muito cuidado.
Enquanto isso, o novamente autoproclamado Anarquista Dennys “Pé-de-Cabra” está faminto, após correr novamente metade da zona sul do Rio de Janeiro em frenesi de medo. Dessa vez ele correu pela faixa de areia e da área verde do Aterro do Flamengo, tentando evitar as câmeras das ruas. Ele ouve os gritos das sirenes por todos os lados no aterro, sabe que está sendo procurado pela Segunda Inquisição, ainda mais por usar novamente seu visual de cantor falecido. Não importa. Ele entra em uma boite na lapa, onde alguns humanos ainda tentam festejar suas vidas miseráveis e mesquinhas. Se esconder em plena vista. A melhor tática no momento.
Ele arrasta uma menina para um banheiro, na tentativa de saciar apenas um pouco de sua Fome. Ela está visivelmente fragilizada e doida, seu hálito cheira a cerveja, sua pupila está completamente dilatada. Ela se entrega ao Beijo quase sem força alguma e desmaia. Dennys precisa se controlar para não ceder à Besta e matá-la, drenando todo seu sangue. Ele a coloca sentada em frente a uma mesa e procura outra presa. Nesse momento ele percebe que está sendo observado. Ele se vira. Os humanos estão saindo da boite tranquilamente, até o DJ parece deixar sua cabine. Ele sente que está cercado e procura com sua visão especial, removendo seus óculos escuros, revelando seus olhos bestiais. Se materializam ao seu entorno os mesmo Membros que tentaram capturá-lo no campus da praia vermelha, fora do Elísio temporário. Alcântara, o ancilla guia que encobria a entrada dos demais com seus poderes sorri ao perceber que foram descobertos. Ele volta a descer a escada de onde eles provavelmente vieram. Ficam na pista de dança o mesmo grupo da cena anterior: Xerife Simon, a Cortesã Conselheira Isabelle, o Cappo Della Torre Don Vitto, o Magistrado Don Martino e o novo Conselheiro Regente Viktor.
“Ô Bosta”, Dennys murmura.
A batalha que se segue é sangrenta e visceral. Dennys é o mais rápido deles, com seus punhos vermelhos e com a determinação transmitida desde o Brujah Aleto até ele. E usa toda sua força de vontade para isso. Dennys, o indomável, resiste a tentativas de que sua alma seja roubada pelo Xerife, das terríveis imposições de poderes mentais e sociais da Cortesã e do Magistrado e esquiva-se de tiros do Cappo e dos fantasmas do Hecata, bem como das magias de sangue e fogo do Regente. Ele pula para atrás de mesas e balcões de bar, atira com duas armas, joga sua jaqueta em chamas para longe, usa sua Katana e todos os objetos da boite como garrafas e até um poste de pole dance contra os Cainitas que o atacam. A casa noturna, que Dennys conhece melhor que os demais, se torna palco de uma nova arena de Amaldiçoados, lutando em suas capacidades máximas. Dennys sabe que não conseguirá manter o ritmo por muito tempo, pelo pouco de vitae que ingeriu e por tudo que já usou para a luta. Ele vê uma brecha e segue para a porta da boite. Lá ele para na frente de a Ártemis.
Ártemis, a Brujah Helenista, que tem o poder do Laço sobre ele. Por vezes durante a noite ele resistiu a ela. Agora, ele não sabe se conseguirá. Ele se vira e vê o Arconte Hassam “Morte Súbita” atrás dele. O Arconte Santificado pela Justicar. Atrás do Arconte Dennys consegue ver o alto Servire Ather. “Ártemis Anciã Helenista: Você está Aclamada” ele diz entre as presas, entregando a ela uma estaca particularmente afiada e com algumas escrituras em árabe ao longo de seu corpo. A ponta da estaca está visivelmente banhada em algum líquido escuro. Ela cheira a sangue recente. Dennys tenta fugir ainda assim, mas Ártemis se coloca em sua frente novamente. Dennys sabe que não poderá invocar novamente a sua Celeridade, está com sua última parcela de sangue em seu corpo. “Gata, não faça isso. Me deixa ir. Não volto mais.”
Os Membros dentro da boite se aproximam, mas o Arconte olha para Ather que instantaneamente se interpõe entre eles. O Servire também Aclamado pelo Arconte apenas levanta o braço esquerdo, detendo-os. Ninguém é estúpido de negar a vontade de um Aclamado quando este está a menos de 10 passos do patrono de seu Status temporário, e este está Santificado por uma Justicar. A sentença pode ser a mesma que a criatura conhecida como Tijuco teve horas atrás nos salões do Elísio temporário: A Morte Final.
Ártemis encara Dennys. Um filete de sangue desce do olho machucado dela. Ela o abraça. Ele confia e cede, sem mais forças de resistir o poder do Laço. “Adeus, baby.” Ela tenta dizer algo mas não consegue. Sem aviso e assustando a todos, ela crava a estaca nas costas do seu irmão de Clã, ferindo-o profundamente. Eles continuam abraçados. Ele se afasta dela, os olhos bestiais dele com um misto de ódio e amor. Ela o encara, aos prantos escarlate.
Dennys solta ela e começa a caminhar, como se em dor e agonia. Como se algo dentro dele o machucasse profundamente. Ele não sabe se é o pedaço da estaca que tenta chegar ao seu coração ou se o abraço traidor de Ártemis que tenta partí-lo em dois. Sangue começa a escorrer de sua boca, olhos, orelhas... Ele caminha para sair pela porta. Os Cainitas tentam avançar, mas o Arconte coloca suas presas para fora. Dennys abre a porta da boite. Ártemis força ainda a passagem, mas o Arconte insiste. O céu da noite luta contra um rosa em suas laterais que insiste em anunciar o surgimento de um novo dia. A rua está vazia, e se consegue notar que o local está cercado por carros do BOPE. Dennys dá um pequeno sorriso ensanguentado. A cada parte de sua fala, sangue desce pela sua boca, por sua barba caindo no chão e no seu peito. “Heh. Deixa eles comigo, seus estrumes otários . Vão embora, chupar o sangue das bolas do Príncipe e as tetas da Justicar. Aqui é coisa pra quem tem coragem de morrer”. Ele tenta fechar a porta e saindo de cena, mas nesse exato momento, ele se contorce e endurece, como se uma estaca invisível penetrasse. Ele balbucia ejetando bastante sangue de sua boca. "...Porra". Ele cai para dentro da casa.
Nesse ponto é possível ver com Sentidos Aguçados a aproximação de uma equipe do BOPE e sentir na pele que alguma coisa emana deles muito poderosa e ameaçadora, algo que questiona a própria existência Amaldiçoada de todos. Os que conseguem ver lá fora percebem que essa força vem de um dos que comandam a força especial. E o reconhecem: Claudinho "Principado", o comandante do BOPE. Todos do grupo se aproximam para ajudar a fecharem a porta e carregarem o corpo de Dennys, como se lutassem por suas vidas.
Os Cainitas ouvem o barulho de uma máquina forçando a porta. A sensação de que algo ameaçador lá fora aumenta. Eles descem para o subsolo com pressa, carregando o corpo de Dennys, até chegarem em uma passagem de esgoto, por onde vieram, onde Alcântara espera por eles dentro de um antigo vagão inicial de metrô enferrujado e solitário. “Horário merda que vocês escolheram pra viajar. Mas, pelo menos, conseguiram o que vieram buscar.” Ele aciona o motor do vagão único do trem e os leva para um Refúgio Nosferatu, onde eles passam o dia, sentido o forte e fétido cheiro de uma fossa de sangue, onde longilíneos animais são criados no vitae do Clã dos Escondidos.
Na noite seguinte, o Regente Viktor percebe que o anel com a pedra foi destruído. O Grupo inteiro carrega Dennys para o Elísio da Lagoa, para a presença do Príncipe Don Guido…
Continua no Entreato VI